Doutrina Espirita

Aqui quem quiser encontrará situações sobre a Doutrina Espírita,baseada em Doutrina - Filosofia e Religião; além de estudo, conceitos de grandes vultos que passaram pela vida material, que abraçaram a Doutina Espírita e por psicografia trazem alento para o nosso dia-a-dia, nos mostrando que a vida material não é única, mas a Vida Espiritual de onde vimos e para onde vamos é a principal.

Saturday, April 08, 2006

Doutrina Espirita

Doutrina Espirita

A ESTRADA DA VIDA.

A questão da pluralidade de existências preocupa, há longo tempo, os filósofos e mais de um viram, na preexistência da alma, a única solução possível dos mais importantes problemas da psicologia. Sem aquele princípio, eles se vêem peados a cada passo e retidos por barreiras, que somente pela pluralidade de existências podem ser transpostas.
A maior objeção que se pode levantar contra essa doutrina é o esquecimento das anteriores existências. Na verdade, a sucessão de existências inconscientes umas das outras, o abandono de um corpo para tomar outro, sem haver memória do passado, equivalente ao nada, porque seria o nada para o pensamento; seriam outros tantos pontos de partida, novos, sem ligação com os precedentes; seria um rompimento; um constante rompimento com todas as afeições, que tornam encantadora a vida presente e a mais doce e consoladora esperança do futuro: seria enfim a negação de qualquer responsabilidade moral. Semelhante doutrina seria tão inadmissível e tão incompatível com a justiça de Deus, como a de uma única existência, com a perspectiva de uma eternidade de penas por algumas faltas temporárias.
Compreende-se bem que não possam admiti-las aqueles que fazem idéia assim da reencarnação.
O Espiritismo, porém, não no-la apresenta com esse aspecto.
A existência espiritual da alma o ensina, é a sua existência normal, com indefinida lembrança retrospectiva. As existências corporais não são senão intervalos, curtas estações na vida espiritual e a soma de todas essas estações não passam de uma mínima da existência normal, absolutamente como se, numa viagem de muitos anos, se parasse, de tempos em tempos, por algumas horas.
Se durante as existências corporais parece haver solução de continuidade, por falta de memória ou lembrança do passado a ligação se restabelece durante a vida espiritual, que não tem interrupção. A solução de continuidade não existe, realmente, senão para a vida corpórea exterior e de relação, e, aqui, a ausência de lembrança prova a sabedoria da Providência, que não quis que o homem estivesse muito afastado da vida real, em que tem deveres a cumprir. No estado de repouso do corpo, porém, no sono, a alma readquire, mais ou menos, a vida retrospectiva e assim restabelece a cadeia, somente interrompida no estado de vigília, (1*).
Pode objetar-se, perguntando: que proveito se colhe das existências anteriores, uma vez que se não tem consciência das faltas cometidas? O Espiritismo responde, primeiramente, que a lembrança das existências desgraçadas, acumuladas às misérias da vida presente, tornaria esta ainda mais penosa. Foi, pois, um excesso de sofrimento que Deus nos quis poupar. Se assim não fora, qual seria muitas vezes, a nossa humilhação, tendo presente o que fomos! Quanto ao proveito, inútil é, para melhorarmos, aquela lembrança. Em cada existência damos alguns passos para diante, adquirirmos algumas qualidades e despojamo-nos de imperfeições. Cada uma delas é, pois, um novo ponto de partida, em que somos o que nós tivermos feito em que atendemos ao que somos sem cuidar do que fomos.

Se, numa existência anterior, fomos antropófagos, que nos interessa saber, se já não o somos? Se tivermos uma falta qualquer, de que nos não resta mais sinal, vale isto por questão terminada, de que não temos uma falta, de que só nos corrigimos em parte; certamente, o resto não combatido nos acompanhará na nova existência, em que nos poderemos corrigir. Tomemos um exemplo. Um homem foi assassino e ladrão; castigado na vida corpórea, e na espiritual, arrependeu-se e corrigiu-se do primeiro arrastamento, mas não do segundo; na seguinte existência será somente ladrão, talvez um grande ladrão, mas não um assassino; mais um passo, ele não será mais senão um fraco ladrão; ainda mais, e já não roubará, embora ainda sinta o desejo, que a consciência lhe combate; um último esforço, e tendo desaparecido todo o sentimento do vício, será um modelo de probidade. De que lhe serve para isso saber o que foi? A lembrança de ter acabado no cadafalso não lhe serviria senão de tortura e de humilhação perpétuas. Aplicai este raciocínio a todos os vícios; a todos os erros e reconhecereis que a alma se aperfeiçoa passando pelo cadinho das encarnações.
Não será mais digno da soberana justiça entregar o Senhor ao homem o seu próprio destino, só dependente dos esforços que fizer por melhor, do que criar uma alma ao mesmo tempo em que o corpo, condená-la a tormentos eternos, por erros passageiros, sem lhe dar os meios de correção?
Pela pluralidade das existências, o seu futuro está nas próprias mãos; se gasta muito tempo em melhorar, sofre as conseqüências da demora; é a suprema justiça; mas a esperança nunca o deixa. A seguinte comparação nos faz melhor compreender as peripécias da vida humana. Suponhamos uma longa estrada, em cujo percurso encontra-se, da distância em distância, mas com intervalos desiguais, florestas que é preciso atravessar. Na entrada de cada floresta, a estrada larga e bela é interrompida e só na saída é que continua.
Um viajante segue por aquela via e chega à primeira floresta; aí, porém, não encontra caminho, mas um décalo, onde se perde. A claridade o sol não penetra e a espessa abóbada formada pelas árvores; ele caminha sem rumo; porém, afinal, depois de inauditas fadigas, chega aos confins da mata, mas chega alquebrado pelo cansaço, com as carnes rasgadas pelos espinhos, os pés feridos pelas pedras. Ali torna a encontrar o caminho e a luz, e prossegue em sua marcha tratando de curar-se das feridas. Mais longe depara com a segunda floresta, onde o esperam as mesmas dificuldades; já tem, porém, um pouco de experiência e rompe o matagal sem ferir-se muito. Noutra, encontra um lenhador, que lhe indica a direção e o impede de perder-se.
Dai por diante, aumenta a sua habilidade, os obstáculos são mais facilmente vencidos e seguro de encontrar na saída o caminho desbravado, alenta-se com esta confiança. Finalmente, já possui e precisa orientação para achá-lo. O caminho termina no cume de alta montanha, de onde ele distingue toda a caminhada que fez, desde o ponto de partida, assim como vê as floretas que atravessou e recorda as vicissitudes por que passou. Essa recordação, porém, não lhe é penosa, visto como já chegou ao fim da viagem; é como o velho soldado que, na calma do lar doméstico, recorda as batalhas a que assistiu.
As florestas esparramadas pelo caminho são para ele pontos negros numa fita branca; diz – “Quando estava ali, principalmente na primeira, como me pareciam longo! Parecia-me que não chegava ao fim; tudo era gigantesco e inextricável em torno de mim. E quando penso que, sem aquele bom lenhador que me ensinou o caminho, ainda andaria hoje por lá! Mas agora, que as contemplo daqui, como me parecem pequenas aquelas florestas, tão pequenas, que me bastariam alguns passos para poder atravessar! E quanto mais as contemplo e lhes reparo nas minúcias, mais falso me parece o juízo que fiz delas”.
Aparece-lhe então um velho, que lhe fala assim: - Filho eis está no termo da viagem; mas o repouso indefinido causar-te-ia brevemente mortal enjôo e far-te-ia ter saudades daquelas vicissitudes por que passastes e que davam atividade ao corpo e à alma. Vês daqui um sem número de viajantes no caminho que percorrestes, os quais, como tu, correm o perigo de perder-se. Tens a experiência, nada mais temes; vai procurá-los e esforçar-te por guiá-los com os teus conselhos, a fim de que cheguem mais cedo.

- Com sumo gostoso, responde o homem, mas qual a razão de não haver um caminho reto do ponto de partida até aqui? Isso pouparia aos viajantes o incômodo de atravessar aquelas abomináveis florestas.

- Filho, torna-lhe o velho, pensa bem e verás que muitas são as pessoas que as evitam; aquelas que, tendo já adquirido a necessária experiência, sabem escolher um caminho mais direto e mais curto; essa experiência, porém, é o fruto do trabalho durante as primeiras travessias de maneira que eles não vêm ter aqui senão por obra de seus méritos.

- Que seria de ti se não houvesse experimentado? A atividade que precisastes desenvolver os recursos de imaginação que te foram precisos para abrires o caminho aumentou-te os conhecimentos e desenvolveram-te a inteligência. Sem isto ainda serias tão insciente como no dia da partida. E, ainda, esforçando-te por vencer os empecilhos, contribuístes para o melhoramento das florestas, que atravessastes. O que fizestes é pouco, é imperceptível; mas pensa nos milhares de viajantes que têm feito outro tanto e que, trabalhando para si, trabalham sem que o saibam, pelo bem comum. Justo é que receberam o salário do trabalho, no descanso que aqui gozam. Que direito haveria a esse descanso se nada tivessem feito?
- Meu pai, responde-lhe o viajante, em uma destas florestas encontrei um homem, que me disse: “Há ali um abismo, que é preciso vencer de um salto; mas entre mil viajantes, só um o transpõe, os outros caem no fundo duma fornalha ardente e ficam perdidos sem remissão”. Eu, porém, não vi tal abismo.
- Não existe o abismo, meu filho; a não ser assim, seria uma cilada abominável armada aos viajantes, que vêm à minha casa. Bem sei que muitas são as dificuldades por vencer; mas sei também que cedo ou tarde as vencerão.
- Se eu tivesse criado impossibilidade para um só homem que fosse, sabendo que ele sucumbiria, teria praticado uma crueldade; quanto mais se as tivesse criado para tantos. Esse abismo é uma alegoria, cuja explicação vou dar-te. Olha para a estrada, no intervalo das florestas; entre aqueles que por ela transitam vês uns que marcham, lentamente com o ar alegre, vês aqueles amigos que se perderam de vista no labirinto, como são felizes de se encontrarem na saída; mas, ao lado dele há outros que se arrastam penosamente; estão estropiados e imploram a piedade dos transeuntes, porque sofrem cruelmente das feridas que, por culpa sua, fizeram através dos espinhais; serão curados e isto lhes servirá de lição para quando tiverem de atravessar nova floresta, da qual sairão menos contundidos.
- O abismo é a figura dos males que sofrem, e dizendo que em mil só um o vence, i homem teve razão, porque infinito é o número dos imprudentes. Claudicou, porém ao informar que uma vez caído, ninguém logra sair daquele báratro. Há sempre uma saída para aqueles que querem vir a mim. Vai, meu filho, vai ensinar a saída aos que estão no fundo do pego; vai alentar aqueles que se estão ferindo no trajeto, vai ensinar o caminho àqueles que estão atravessando a floresta. (2*).
A estrada é a figura da vida espiritual da alma, em cujo percurso o viajante é mais ou menos feliz; as florestas são as existências corpóreas, em que ele trabalha no próprio e no geral progresso; se alcançou o termo da viagem e volta para ajudar aqueles que ficam para trás, que ainda se debatem, é o anjo da guarda, missionário de Deus, em cuja presença encontra felicidade, como a encontra também na atividade, na prática do bem e na obediência ao Supremo Senhor.

(1*) Este princípio da memória espiritual está hoje suficientemente provado pelas pesquisas científicas e pelas práticas terapeutas. A Psicologia Profunda e a Parapsicologia revelaram as profundezas do nosso inconsciente, a memória sublimar de que trata Frederic Myes em sua famosa obra Human Personlity. Hoje, os trabalhos científicos sobre a reencarnação mostraram que essa memória profunda exorbita a existência atual e prova a reencarnação. Veja-se o livro do Prof. Ian Steverson: 20 Casos que Sugerem a Reencarnação (Universidade de Virgínia, EUA) e os trabalhos do Prof. Hamendras Nat Barnejee (Universidade de Jaipur, Índia). Há também as pesquisas do Cel. Albert de Rochas: As Vidas Sucessivas, servindo-se do processo hipnótico de regressão da memória. As pesquisas atuais utilizam-se desse método em conjugação com a análise das lembranças espontâneas de outras vidas em crianças e adultos. Psiquiatras e neurologistas da América, da Europa e da Ásia já reconhecem que os traumas psíquicos não provêm apenas de recalques desta existência. (Veja)-se Karl Wilkland, da Univ. de Chicago; Trinta Anos entre os Mortos; o próprio Stevenson, que é professor de Psiquiatria e Neurologia em Virgínia; o Dr. Cânon, em Londres: Psiquiatria e Reencarnação; o Dr. Inácio Ferreira, de Uberaba, livro com esse mesmo titulo; o Dr. Lauro Neiva, especializado pelo Instituto de Psiquiatria da Columbia University, EUA, ex-assistente do Prof. Henrique Roxo, no Rio de Janeiro: O Psiquiatra e o Invisível. Vemos assim que as lembranças das vidas anteriores não são apagadas da nossa memória, permanecendo vivas em nosso inconsciente e podendo ser trazidas à luz da memória atual. (N. do Ver).

(*2) Esta imagem das florestas sucessivas é um recurso didático de Kardec servindo-se da sua experiência de professor. Assim como o mito do véu no Livro dos Espíritos (item 222) lembra o mito da caverna em A República de Platão, esta imagem das florestas lembra a selva oscura de Dante logo no início da Divina Comédia: Nel mezo del cammin di nostra vita / mi ritrovai per uma selva oscura / Chi la diritta via era esmarrita. Ou seja: Em mio ao caminho da nossa vida / encontrei-me numa selva escura / que perdida ficara a via certa. Note-se o dogma da perdição em perfeita consonância nos dois trechos, mas em Kardec explicado como perdição temporária.
Certamente este trabalho de Kardec havia sido escrito para posterior publicação da Revista ou numa dessas brochuras didáticas de que ele se servia para divulgar os princípios doutrinários entre o povo. Válido hoje e sempre, um trabalho como este deve ser melhor aproveitado em pequenos livros ilustrados. Note-se a feliz representação das religiões tradicionais no homem que, em meio de uma floresta, adverte o caminhante quanto à existência do abismo de perdição eterna. O aviso é oportuno, mas contém um erro que só posteriormente vai ser esclarecido. (N.do Ver.).

0 Comments:

Post a Comment

<< Home